terça-feira, 16 de abril de 2013

Sobre a Sombra e nosso poder interior






"Empreender o caminho iniciático é o mesmo que percorrer o caminho que leva a nós 
mesmos, a nosso eu real. Durante todo o processo de desenvolvimento que antecede à iniciação é muito importante observar o progresso interno, as mudanças que acontecem no âmago do ser. O fato é que, devido a toda uma estrutura social e educacional, é muito difícil que as pessoas olhem para o seu próprio interior. Temos de encontrar com o nosso 'eu' rejeitado.

O lado negro da nossa personalidade tem sido menosprezado e demonizado por todas as culturas patriarcais do ocidente. Entretanto a solução dessa antiga contenda, calcada na rejeição das trevas em detrimento da luz, não está em destruí-las ou afastá-las, mas ao contrário, em compreendê-las ou resgatá-las. Se pudermos entender que luz e escuridão fazem parte da totalidade do nosso ser, que ninguém é somente luz ou apenas escuridão, teremos condições de investigar conscientemente nosso próprio interior. Acredito que todo o problema esteja em nossa própria obstinação em negar nossa parte Sombra e acreditar que somos eternamente bons, caridosos e justos. Se pudermos reconhecer nossos mecanismos de defesa e rejeição, acredito que teremos alguma chance de começar a realizar essa tarefa tão dolorosa, que é a de encontrarmos nossas próprias fraquezas, medos e neuroses, bem como todas aquelas coisas das quais, deliberadamente ou por imposição, abrimos mão em nossas vidas e que se tornaram um fardo tão pesado de se carregar.


Segundo Marc Barasch: ' A espiritualidade do jeito que foi reembalada para a nova era é um bolo de amor e luz, que dispensa a peregrinação, a penitência, a derrota e a queda, a tortura e a humildade.'

O poder é resultado de um enorme trabalho espiritual, de uma dedicação que termina numa total entrega de todos os falsos valores aos quais nos apegávamos, e finalmente ao chamado encontro com a Sombra, nossa Mente Profunda. O Verdadeiro poder está finalmente na remissão de nossa Sombra.Quanto mais eu reprimo e nego a mim mesmo, mais perco de vista meu lado sombrio, aumentando cada vez mais o fosse divisório.


Todo e qualquer esforço no sentido de nos tornarmos uma pessoa boa (leia-se, aceitável) resulta inevitavelmente no endurecimento cada vez maior da capa com que cobríamos nosso ego, uma capa ilusória de bondade. Criamos nossas máscaras e vivemos com elas, acreditamos nelas e lutamos pela sua manutenção. Não percebemos que tudo isso é tão-somente a manutenção de um ideal de ego bastante inconsistente e frágil, e que ao contrário a Sombra ganha cada vez mais força e energia, uma energia que poderíamos aproveitar em nosso benefício,, uma vez que é potencialmente positiva. Positiva no sentido de que é ela, Sombra, que é real e verdadeira, não possuindo dissimulações e falsidades do ego. Ela não possui máscaras, por isso temos tanto medo dela. Simplesmente não somos aquilo que pensamos que somos.
Para podermos iniciar um aprendizado verdadeiro e consistente, precisamos estar conscientes de que nossas vidas encontram-se estagnadas, que nossos valores não nos conduziriam a lugar nenhum e que as imagens que criamos a nosso respeito começam a se despedaçar."

Texto de Mário Martinez do livro: Wicca Gardneriana